Em meados de fevereiro, foram publicados pela imprensa nacional os rankings das escolas. Este ano, o Colégio surge nestas listagens, de acordo com os diferentes meios de comunicação social, entre o 13.º e o 20.º lugar, posições diferentes das do ano passado, em que o Colégio oscilou entre o 3.º e o 11.º lugar. Independentemente do valor que se possa dar aos rankings, o Colégio revelou uma prestação menos positiva neste indicador, pelo que, naturalmente, estamos menos satisfeitos, o que não quer dizer, todavia, que estejamos descontentes com o trabalho desenvolvido por toda a comunidade educativa.
Muito há a dizer quando se discutem os rankings das escolas, a começar pelo facto de não existir apenas um ranking, mas sim tantos rankings quantas as diferentes formas de analisar e apresentar os resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais. Aliás, apenas assim se explica a oscilação de sete lugares da posição ocupada pelo Colégio nas diferentes publicações. Atendendo a que essas disparidades entre os lugares ocupados são significativas, ao fazer uma leitura das publicações dos resultados, é importante ter bem presente os critérios que presidiram à elaboração de cada ranking. Um dos critérios mais significativos é o da seleção das disciplinas cujos exames entraram para o cálculo da média global da escola. Por exemplo, no caso do ranking do jornal Público, que serve de orientação para esta reflexão, foram deixados de fora os resultados dos exames de Economia A, Matemática B, Geometria Descritiva A, História B e Desenho A. Outro critério igualmente importante é o do número de exames por escola, pois alguns rankings consideram apenas escolas com um número mínimo de exames feitos e outros não. No caso de não se olhar ao número de exames, poder-se-á estar a comparar uma escola em que foram feitos cinquenta exames com uma em que foram feitos mais de quinhentos. Ainda outro aspeto importante prende-se com a contabilização ou não das classificações dos alunos reprovados (que vão a exame como autopropostos), pois há rankings que apenas contabilizam as notas dos alunos chamados “internos” e outros não. Além destes critérios, há outros, que podem ser mais ou menos complexos, de entre os quais destacava ainda o «indicador global dos percursos diretos de sucesso», um critério do ranking do Ministério da Educação, e «valor esperado do contexto», do jornal Público, que são significativos para enquadrar os lugares que as escolas ocupam nesses rankings. Em suma, independentemente dos critérios, é fundamental que eles sejam explícitos e que os conheçamos para ler corretamente os resultados.
A par destas diferenças resultantes da aplicação de critérios distintos, há ainda que ter presente, na leitura dos rankings, a variação ao longo dos anos letivos, já que as escolas vão oscilando de ano para ano nos lugares que ocupam nas listagens, o que é expectável, porque, não sendo a escola uma máquina de montagem, é natural que os alunos manifestem desempenhos distintos ao longo dos anos e é também natural que as escolas afinem procedimentos relativamente à preparação dos alunos. Por outras palavras, deve-se considerar sempre o histórico da escola e não somente um resultado isolado. Neste sentido, não é correto dizer-se taxativamente que uma escola está “melhor” ou “pior” do que no ano anterior, pois nenhuma comunidade educativa muda tão radicalmente de um ano para o outro, nem, convenhamos, eventuais mudanças implementadas no período de apenas um ano têm efeitos imediatos nos alunos, como se os restantes onze anos de escola não existissem. Ou seja, é evidente que as oscilações de um ano para o outro resultam sobretudo de fenómenos conjunturais e não tanto de alterações estruturais, que apenas estarão patentes numa visão diacrónica dos resultados. A título de exemplo, pegando no ranking publicado pelo jornal Público, o Colégio de S. João de Brito, em 2013, ocupou o 3.º lugar, em 2014, o 24.º lugar e, em 2015, o 4.º lugar. Ora, associar simplesmente o valor do Colégio a um ranking é admitir que o Colégio possa ser a “terceira melhor escola do país” num ano e, logo no ano seguinte, com os mesmos professores, os mesmos métodos e os mesmos programas, não ser “uma das vinte melhores escolas do país”. O Colégio, ao mesmo tempo que acompanha esta evolução ao longo do tempo, não deixa de fazer uma análise sincrónica, fina e multifacetada, dos resultados obtidos pelos alunos em cada ano, considerando o caso de cada aluno individualmente, mas também globalmente, e, no âmbito de uma estratégia de melhoria contínua, são feitas as reflexões necessárias para ajustar alguns procedimentos, não só conjunturais, mas também estruturais. Mas esse trabalho é feito em julho, quando saem os resultados, para que as medidas possam ser implementadas em setembro, e não mais tarde, na sequência da publicação dos rankings, o que mostra também como o Colégio não considera absolutamente prioritária (ainda que seja importante) a imagem projetada por estes estudos, razão pela qual, aliás, continua a não selecionar os alunos com base nas suas capacidades (outro critério significativo, mas que não é equacionado pelos jornais). É importante não esquecer que o que os rankings fazem é seriar escolas de acordo com a média dos resultados obtidos pelos alunos. Naturalmente, se o Colégio fizesse uma seleção de alunos, deixando de fora os menos capazes de obter sucesso neste instrumento, a média global subiria e o Colégio subiria no ranking também, embora, nesse caso, deixasse pelo caminho alunos cujo percurso de vida não passasse por classificações acima de 15 valores nos exames. Nessas análises que fazemos em julho, cruzamos, por exemplo, a comparação dos resultados dos nossos alunos com a média nacional (como, genericamente, fazem os rankings) com outros elementos, como é o caso da percentagem de alunos colocados em 1.ª fase (em 2018, foi de 96%, o valor mais elevado dos últimos 5 anos) ou da percentagem de alunos colocados na 1.ª ou 2.ª opção (este ano foi de 60%, um valor inferior ao do ano passado, mas superior ao de 2015, em que o Colégio ficou em 3.º lugar no ranking).
Ter estes dados presentes – os diferentes critérios usados para elaborar os rankings, o histórico dos resultados da escola, os alunos que entraram em 1.ª fase, os alunos que entraram na 1.ª ou 2.ª opção e a política de admissão de alunos – é importante para evitar afirmações dogmáticas e ligeiras, que pouco contribuem para a melhoria do ensino.
Por tudo isto, não esqueçamos que os rankings são apenas um indicador, embora seja, sem dúvida, o mais mediático. Como disse o Padre Provincial numa recente visita ao Colégio, o nosso ranking está definido nos vários documentos da Pedagogia Inaciana e é esse que nos deve orientar. O Padre Kolvenbach, numa carta sobre o Paradigma Pedagógico Inaciano, escrita em 1993, considera que o aluno que completa a sua formação numa escola jesuíta deve ter desenvolvido de forma equilibrada o que veio a ficar conhecido na literatura posterior como os quatro C: ser um aluno competente, consciente, comprometido e compassivo. À luz deste objetivo, a publicação anual dos rankings de desempenho académico no nosso país é pobre, já que, centrando-se na competência académica, deixa de lado a formação humanista cristã para que os outros aspetos apontam, e pode revelar ainda outro problema: o de que continuamos obsessivamente centrados nas inteligências clássicas (sobretudo as lógico-matemáticas e as linguísticas), mensuráveis objetivamente através de exames, ignorando aquilo que tem vindo a ser definido como sendo as competências fundamentais para o século XXI por importantes instituições.
Apesar destes desencontros, apesar de se tratar apenas de um indicador entre outros e apesar de poder ser feito e lido de várias maneiras, o ranking das escolas existe, tem um grande impacto na sociedade e, em rigor, é um instrumento que mede de forma objetiva o desempenho académico dos alunos. Somos uma escola, pelo que a competência académica dos nossos alunos é evidentemente fundamental para nós, e, portanto, um ranking escolar deve ser – tem de ser - uma preocupação nossa, mas apenas na medida em que concorre para o mesmo fim preconizado pela Pedagogia Inaciana e em que acompanha os novos desafios educativos que a sociedade lança aos educadores. Fora deste enquadramento maior, o ranking, se perspetivado como sendo um fim em si mesmo, pode perder a sua mais-valia de catalisador da melhoria. Pelo contrário, enquadrado nesta visão estruturante no nosso Projeto Educativo, é um indicador que contribui para uma avaliação mais completa do Colégio e que, por esse motivo, conduz, independentemente do lugar que os jornais nos atribuem, à redefinição sucessiva do processo de ensino e aprendizagem, através da adoção de medidas de melhoria contínua.
Termino, dizendo que o que escrevi em 2018 continua válido, pelo que não adianta continuar a repeti-lo. É certo que os resultados dos nossos alunos se situaram ligeiramente abaixo do desejável, é certo que se deve, como concluiu o conselho pedagógico-didático, investir cada vez mais no desenvolvimento de competências e não apenas na aquisição de conteúdos, é certo que foram identificadas áreas de melhoria e adotadas as respetivas medidas de correção e é também certo que nos move sempre o Magis. Mas é também certo que existem oscilações naturais tal como é certo que os resultados, apesar de tudo, são bons. No ano passado, terminei dizendo que é importante não esquecer isto: por detrás dos números dos rankings, há pessoas. Este ano, por causa destes lugares nos rankings, acrescento, parafraseando Fernando Pessoa, que não devemos perder tempo a procurar caves em andares nobres.
Pedro Antunes Valente
(Diretor Pedagógico)