No rescaldo de um verão entusiasmante para qualquer jovem católico português, por termos tido entre nós as Jornadas Mundiais da Juventude 2023, é importante para a comunidade do Colégio de S. João de Brito destacar também o momento íntimo que nos foi dado viver – direta ou indiretamente. O Papa veio ao nosso colégio, andou pelos nossos espaços, com o desejo de aqui encontrar os seus irmãos jesuítas. Para essa ocasião, foram aqui preparadas duas peças muito especiais. A primeira foi a cadeira de madeira onde o Papa se sentou, feita pelo sr. Dinis, da carpintaria do colégio. Nela, durante a conversa informal e riquíssima que teve com os jesuítas portugueses, o Papa respondeu às perguntas que lhe foram colocadas, depois do seu apelo a que os seus companheiros não tivessem medo de serem “imprudentes” nas questões. Houve perguntas sobre como gerir a vocação sacerdotal num mundo cada vez mais sexualizado e dominado pelo consumismo, sobre a opção de inserção entre os mais pobres ou até sobre as críticas de que o próprio bispo de Roma é alvo, entre as esferas mais reacionárias da Igreja. A todas o Papa respondeu com calma, sabedoria e graça, relembrando várias intuições de santos da história da Igreja que podem orientar os companheiros de Jesus de hoje perante os desafios que têm de enfrentar.
A segunda peça que nesse encontro foi inaugurada foi a estátua de S. João de Brito que, a partir desse dia, passou a acolher quem entra pelo portão do colégio. “Está a sorrir!”, exclamou o Papa, encantado, logo quando a viu. Realizada pelo jesuíta João Sarmento sj, esta escultura, conforme nos explica o próprio autor, representa um santo que “se configura com a cruz, levando-a ao colo ou sendo levado por ela – não se percebe bem”. João de Brito é um homem que teve sempre a ideia de martírio muito presente, que acolheu o convite de Jesus a “tomar a sua cruz e segui-Lo” de forma radical. A preocupação de João Sarmento sj foi, pois, traduzir este ímpeto de uma forma que não fosse tão pesada ou difícil de entender para os alunos de hoje e a comunidade educativa em geral. “O jugo é suave e leve”, promete Jesus, e, por isso mesmo, um santo que se sente plenamente em sintonia com esta missão de radicalidade apresenta-se “com o olhar no horizonte, desejoso de ir até ao fim do mundo, levado por esta cruz, mais do que a carregá-la como se fosse um peso. Sorri, alegre, de olhos postos no infinito”. Atrás de si, ainda como parte da escultura, estão blocos de pedra que formam uma espécie de muro irregular, a única coisa que é visível a partir do edifício do colégio. Com efeito, assim é com os nossos alunos. Os educadores não conseguem ver a figura em que estes se tornarão no futuro, só veem as pedras por trabalhar, como o muro da escultura sobre o qual se apoia a figura final de S. João de Brito, a que é dada forma com esperança, mas que só quem está fora do colégio consegue ver como é. Quem cá se entrega à missão de educar trabalha as pedras em bruto, lançando as bases do fruto que se verá depois.
Comissionada para a celebração dos 75 anos do colégio, esta obra acabou por ser inaugurada pelo Papa Francisco graças à feliz coincidência da sua vinda por ocasião das Jornadas, o que acabou por acelerar o processo duro e longo da sua elaboração. O trabalho solitário e fisicamente pesado de esculpir a pedra foi compensado pelo momento tão especial da sua bênção pelo Papa, e certamente pela importância de aqui deixar esta obra, que a todos agora nos inspira.